"Vingadores: A cruzada das crianças", da Marvel,
foi publicada no Brasil em 2012 e apontada como
"imprópria" para jovens, segundo o
prefeito do Rio de Janeiro.
Publicado originalmente no site [huffpostbrasil], em 7 de set de 2019
'O brasileiro não precisa de tutor', diz manifesto de
autores contra censura na Bienal
Prefeito do Rio, Marcelo Crivella, mandou recolher
exemplares de HQ com beijo gay; estimativa da Bienal aponta que 4 milhões de
livros foram vendidos no evento.
By Andréa Martinelli
“Não precisamos ter quem determine o que podemos ler,
pensar, escrever, falar ou como devemos nos relacionar. O brasileiro não
precisa de tutor”. É com este argumento que o manifesto assinado por
escritores, editores e membros da organização da Bienal do Livro do Rio se
posiciona contra as “insistentes tentativas de censura” sofridas desde
quinta-feira (5), quando o prefeito Marcelo Crivella mandou recolher exemplares
da HQ Vingadores: A Cruzada Das Crianças, da Marvel, por conter um beijo gay entre
dois personagens.
No último fim de semana, após idas e vindas na Justiça,
fiscais da Secretaria de Ordem Pública (SEOP) circularem pelo Riocentro em
busca de obras com conteúdo LGBT e infantojuvenis que seriam consideradas
impróprias para circularem livremente na feira do livro, houve uma forte reação
das editoras e leitores, que protestaram no evento e geraram movimentação nas
redes sociais.
“Se engana quem pensa
que o alvo era a Bienal Internacional do Livro. O alvo somos todos nós cidadãos
brasileiros, pois não precisamos ter quem determine o que podemos ler, pensar,
escrever, falar ou como devemos nos relacionar. O brasileiro não precisa de
tutor. Precisa de educação para que cada um possa fazer suas escolhas com consciência
e liberdade”, diz manifesto assinado por 70 escritores e editores, entre eles
Thalita Rebouças, Laurentino Gomes, Lázaro Ramos e Pedro Bandeira.
O texto, que defende a diversidade e a liberdade de
expressão, passou a ser lido no final de cada mesa de debate na tarde do último
domingo (8), data de encerramento do evento. Também foi gravado um vídeo em que
24 autores que contra a censura leem versos da canção Apesar de você, de Chico
Buarque.
O manifesto também elogia as duas decisões de ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli e Gilmar Mendes, publicadas também
no último domingo, que impediram apreensões de livros na Bienal, determinadas
pelo TJ-RJ a pedido da Prefeitura do Rio de Janeiro.
“Do contrário, se criaria uma jurisprudência que colocaria
todos os eventos culturais, autores, editoras e livrarias do Brasil à mercê do
entendimento do que é próprio ou impróprio a partir da ótica de cada um dos
5.470 prefeitos do País”, completa o texto.
Segundo dados divulgados pela Bienal do Livro do Rio de
Janeiro, entre os dias 30 de agosto e 8 de setembro, cerca de 600 mil pessoas
frequentaram o evento que, neste ano, foi realizado no Riocentro.
Estima-se que tenham sido vendidos cerca de 4 milhões de
exemplares em 10 dias de evento, o que foi celebrado por editoras, em meio à
situação de crise das livrarias e mercado editorial. Cerca de 5,5 milhões de
livros estavam disponíveis no evento.
“Encerramos essa edição histórica da Bienal Internacional do
Livro Rio com o coração cheio de orgulho e determinação. A Bienal não acaba
hoje. Ela seguirá com cada um de nós todos os dias. O festival foi memorável.
Deu voz e ouvidos a todos os públicos”, continua texto do manifesto. “Viva a
Bienal do Livro Rio! Via a cultura! Viva a liberdade e a democracia!”,
finaliza.
Leia texto completo do manifesto assinado na Bienal do Livro
do Rio:
A Bienal Internacional do Livro Rio é a oportunidade que
temos, a cada dois anos, para nos reunir, encontrar nossos públicos, nos
inspirar e debater livremente sobre todo e qualquer tema, sem restrições e com
empatia. Um evento de conteúdo qualificado e diverso, reconhecido nacional e
internacionalmente como o maior festival cultural do Brasil.
Nos últimos dias, a Bienal se tornou um abrigo democrático,
ao lado de 600 mil pessoas que prestigiaram o evento, contra as insistentes
tentativas de censura. Se engana quem pensa que o alvo era a Bienal
Internacional do Livro. O alvo somos todos nós cidadãos brasileiros, pois não
precisamos ter quem determine o que podemos ler, pensar, escrever, falar ou
como devemos nos relacionar. O brasileiro não precisa de tutor. Precisa de
educação para que cada um possa fazer suas escolhas com consciência e
liberdade.
Foi com alívio e muito orgulho que recebemos as duas
decisões de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) neste domingo (8/9)
impedindo que a Bienal Internacional do Livro continuasse sofrendo assédio à
literatura e aos seus leitores. Do contrário, se criaria uma jurisprudência que
colocaria todos os eventos culturais, autores, editoras e livrarias do Brasil à
mercê do entendimento do que é próprio ou impróprio a partir da ótica de cada
um dos 5.470 prefeitos do país.
Encerramos essa edição histórica da Bienal Internacional do
Livro Rio com o coração cheio de orgulho e determinação. A Bienal não acaba
hoje. Ela seguirá com cada um de nós todos os dias. O festival foi memorável.
Deu voz e ouvidos a todos os públicos. Reuniu e celebrou a cultura junto com
autores, artistas, pensadores, lideranças de movimentos sociais, pastor
evangélico, monge zen-budista, jornalistas, acadêmicos, ativistas, chef de
cozinha e muitos outros.
Viva a Bienal do Livro Rio! Viva a cultura! Viva a liberdade
e a democracia!
Texto e imagem reproduzidos do site: huffpostbrasil.com
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