Jovem faz cosplay de Coringa
na CCXP 2019.
Publicado originalmente no site do jornal EL PAÍS BRASIL, em
07/12/2019
Ok, ‘boomers’, explicamos a Comic Con Experience, a festa
‘geek’ milionária que arrebata São Paulo
Cidade recebe até domingo a maior feira dedicada ao pop e
aos quadrinhos do mundo, com mais de 280 mil pessoas
Por Joana Oliveira
Se você é um baby boomer, ou seja, daquela geração nascida
entre 1945 e 1964 —ou qualquer pessoa mais velha com um discurso desdenhoso
sobre os jovens e suas ideias—, provavelmente acha inimaginável passar até 40
horas em uma fila para garantir um lugar em um auditório para mais de 3.300
pessoas. Mas se você é fã de quadrinhos, séries e super-heróis, e se o
auditório em questão é o do maior evento de cultura geek e nerd do mundo, que
reúne seus quadrinistas, personagens, diretores e atores favoritos, a coisa
muda de figura. Essa é a proposta da Comic Con Experience (CCXP), que começou
na quinta-feira (05/12) em São Paulo e vai até domingo (08/12), atraindo um
público de 280.000 pessoas. Nesse universo, cabem seis Maracanãs lotados com
160 horas de cultura pop, entre painéis, exibições de filmes, experiências
sensoriais, sessões de fotos e autógrafos, performances e campeonatos de
videogames.
Tudo começou no verão norte-americano de 1970. Ainda que o
Flower Power já estivesse consolidado, o Brasil erguesse a taça de tricampeão
do mundo na Copa do México e os Beatles confirmassem o fim definitivo do grupo,
eram as Histórias em Quadrinhos que faziam o coração de três jovens de San
Diego, na Califórnia, bater mais forte. O trio formado pelo desenhista Shel
Dorf, o dono de uma loja de quadrinhos Richard Alf, e o publisher Ken Krueger
resolveu criar, na sua cidade natal, um evento que deixasse os autores das HQs
e os aficionados pela nona arte cara a cara. Surgiu assim a primeira Comic Con
da história. O evento, por mais que não se trate de uma franquia, tornou-se um fenômeno
de escala mundial, com edições na Itália, em Londres, Nova York e Argentina.
Além dos comics que dão nome à festa, é lá que os fãs de cultura pop conseguem
encontrar exibições de teasers (como os modernos chamam hoje trailers mais
curtinhos) exclusivos de séries e filmes, vendas de artigos de merchandising e
instalações imersivas dessas produções.
Foi justamente seu potencial mercadológico que fez o evento
crescer e tornar-se tão importante no Brasil: este ano, 70% do público vem de
fora de São Paulo. E a previsão é de que toda essa gente deve movimente R$ 265
milhões na cidade, de acordo com os organizadores. 80 marcas estão presentes no
espaço, que receberá mais de 40 delegações de Hollywood para promover seus
próximos lançamentos. Só os ingressos, esgotados todos os dias em 2019, dão uma
dimensão do potencial econômico da nerdlândia: o passe para quatro dias custava
960 reais no primeiro lote e chegaram a 1.180 reais no terceiro e último lote,
com opções premium na casa dos 8.000 mil.
Apesar de abrigar “mini Comic Cons” ao longo dos anos, foi
em 2014 que o evento chegou com toda a força nas terras tupiniquins, pela mão
do conglomerado de cultura pop Omelete Company. HBO, Netflix, Amazon Prime,
Warner, Dinsey (que exibirá com exclusividade Frozen 2) e outras produtoras
brindam os fãs com stands interativos onde eles podem “mergulhar” nos filmes
com realidade virtual ou fazer fotos em um cenário de sua série favorita —como
o café Central Perk, de Friends, ou o Starcourt Mall, shopping da terceira
temporada de Stranger Things (este último considerado pela reportagem o melhor
da CCXP). Mas a indústria nacional também está representada: o espaço da
Globoplay é um dos maiores do evento, contanto até com uma arena onde atores,
atrizes e influencers fazem rodas de conversas transmitidas ao vivo pela
internet, e até a roleta do Silvio Santos tem um cantinho no stand do SBT. É como
se você não existisse se não está na CCXP, o evento do ano para a cultura pop.
Entre os corredores da São Paulo Expo, circulam a cada dia
milhares de geeks, desde os mais cosplayers —aqueles que se fantasiam e
incorporam seus personagens favoritos— até os nerds mais “disfarçados”, que vão
em trajes “de civil”, mas não deixam de conferir todas as novidades e, se
possível, pagar até milhares de reais em um bonequinho exclusivo da história
que marca sua vida. Entre as fantasias, uma das mais comuns nesta sexta edição
é a dela, a dona do pedaço e do Universo, a Mulher-Maravilha. A atriz que lhe
dá vida, Gal Gadot, e a diretora do filme, Patty Jenkins, são os grandes nomes
desta edição, com um painel no domingo que irá adiantar aos fãs as novidades da
continuação do filme.
Os geeks mais famosos fora do meio geek, no entanto, não
perderam seu espaço. É o caso dos Jedis, os guerreiros do lado bom da força em
Star Wars —ou Guerra nas Estrelas, em linguagem boomer—, que, este ano, podem
até participar de um treinamento de batalha com duração de sete minutos, com
direito a sabre de luz e certificado de formação Padawan (como são chamadas as
criancinhas que treinam para se tornar Jedi). Outro grande nome deste ano é
precisamente o de J.J. Abrams , diretor de A Ascensão Skywalker, último
capítulo da saga. Ele participará de um painel neste sábado.
Apesar de ter crescido exponencialmente —em 2014, o público
foi de 97.000 pessoas— e hoje atrair os principais nomes da indústria do
audiovisual, a CCXP não perdeu seu ADN voltado para os quadrinhos: o Artist’s
Alley, espaço dedicado às HQs, conta com 542 artistas divididos em 352 mesas,
além das principais editoras do setor, que trazem desde quadrinistas
consagrados a novos talentos, do país e de fora. Tem cultura pop para todos os
gostos, é só pagar. E que a força esteja com você.
Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com
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