Créditos das fotos: Igor Matias
Publicação compartilhada do site GOVERNO DE SERGIPE, de 30 de Janeiro de 2023
Histórias em quadrinhos estimulam leitura e promovem aprendizado
Celebrado em 30 de janeiro, Dia Nacional das HQs lembra a importância do gênero literário na formação de jovens leitores e artistas
Literatura, entretenimento, educação, diversão. As histórias em quadrinhos, ou HQs, reúnem todos esses elementos e mantêm leitores fieis em todo o mundo. Em Aracaju, a Biblioteca Pública Epiphanio Dória é uma referência no tema, sendo a única do Nordeste a contar com uma sala específica de quadrinhos. No dia 30 de janeiro, quando se comemora o Dia Nacional das HQs, leitores e autores sergipanos celebram e contam sua história de amor com esse gênero literário.
E essa história, na maioria das vezes, começa ainda na fase infantil. É o caso do fã de HQs Marlone Santana, que conduziu toda a sua vida pessoal e profissional em torno dos quadrinhos. De leitor de Mauricio de Sousa e Ziraldo na infância, Marlone se tornou professor de Artes, com o propósito de se aprofundar no estudo das HQs. Mais além, o professor se transformou também em autor, assinando o quadrinho Serigy.
“Comecei ainda criança, com histórias da Turma da Mônica, do Menino Maluquinho... E com o passar do tempo, chegando à adolescência, tive contato com um quadrinho mais pop, com histórias de super-herói e com a indústria japonesa. Eu também gostava de desenhar, e precisei entrar mais a fundo nessa necessidade de criar. Por isso, me formei em Artes Visuais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), já com o propósito de trabalhar com HQs. Eu estava muito interessado na linguagem, na forma artística, e também em como o quadrinho pode ser uma ferramenta para despertar novos leitores”, explica.
Para o advogado Renato Mascarenhas, a experiência foi semelhante. “Comecei a ler quadrinhos ainda pequeno. Eu ficava simplesmente encantado com o modo simples e divertido com que aquelas histórias eram contadas. Hoje, posso afirmar que os quadrinhos mudaram a minha vida”, resume. Hoje, além de autor, Renato é também revisor de HQs.
Quem também aliou o gosto pelos quadrinhos à carreira profissional foi o coordenador de projetos da Epiphanio Dória, Gilvan Filho. Idealizador da sala de quadrinhos na biblioteca, Gilvan não só se dedicou à construção do acervo como segue organizando eventos voltados à formação de leitores e criadores de HQs.
“Sou graduado em Letras e mestre em Literatura, e comecei a ler através das revistas em quadrinhos, com 8 ou 9 anos. É um prazer enorme ter uma sala de quadrinhos na Epiphanio, porque são HQs que antes eram de difícil acesso e hoje estão disponíveis para toda a população. E a gente também oferece, por exemplo, oficinas de produção de roteiro em quadrinhos, ensinando o público a criar”, relata.
Sala de quadrinhos
A sala de quadrinhos da Biblioteca Pública Epiphanio Dória nasceu em março de 2019, fruto do esforço de alguns entusiastas das HQs. Mas, para além desses esforços, foi necessária também certa ajuda do acaso. “Sempre quis implantar uma sala de quadrinhos na Epiphanio, mas não tínhamos acervo suficiente. Falei da ideia para algumas pessoas, e, por acaso, soube de um colega que estava para se desfazer de sua coleção porque iria mudar de país. Ele doou vários exemplares, e também conseguimos outras doações. Hoje, temos um acervo de cinco mil quadrinhos, muitos deles raros”, conta Gilvan Filho.
No acervo de quadrinhos da Epiphanio estão, ainda, diversos títulos sergipanos. “Temos muitos exemplares da Serigy Comics, que é produção de Sergipe e que traz personagens conhecidos para nós, como Zé Peixe e Maria Feliciana. Também promovemos encontros de HQ, palestras, eventos de cosplay e outros. E a gente tem sentido um aumento do interesse. A sala de quadrinhos é uma das mais procuradas da biblioteca, tanto por adultos quanto por adolescentes”, detalha.
Segundo Marlone Santana, a existência de uma sala de quadrinhos pública tem relevância estratégica. “Por questões financeiras, as HQs acabam sendo um gênero de nicho. Então, o acervo da Epiphanio serve não só como uma forma de registro, de memória, mas também para entender a estética dos quadrinhos e a mudança dela ao longo dos tempos”, ressalta.
Educação
Mais do que um passatempo, as HQs também funcionam como suporte educacional. “O quadrinho pode ser trabalhado nas escolas de diversas formas. Ele consolida o hábito da leitura e funciona como um eficiente material de apoio. Estudar história, por exemplo, com o estímulo visual das ilustrações, potencializa o aprendizado. HQs também estimulam a criatividade e aumentam a participação em sala de aula”, lista Renato Mascarenhas.
Marlone lembra que a linguagem dos quadrinhos pode facilitar leituras mais densas. “O quadrinho pode ser uma porta de entrada para a literatura. É uma forma de entrar em contato com os clássicos, através de adaptações literárias. Ele também ajuda o leitor a se guiar por meio das imagens, trazendo um texto um pouco mais acessível. As HQs podem auxiliar, até mesmo, no entendimento de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)”, pontua.
Gilvan Filho concorda. “É indispensável que os professores utilizem os quadrinhos em sala de aula, porque eles trazem temáticas atuais e trazem conhecimento para os jovens de maneira lúdica”, opina.
Dia Nacional
Mesmo mantendo um público cativo, as HQs ainda passam por dificuldades relacionadas à produção e ao seu reconhecimento como gênero literário. Esse cenário se agrava quando consideramos a produção nacional e local. “Antigamente, as HQs não eram bem vistas. Elas não eram consideradas literatura séria, legítima, e eram olhadas apenas como coisa de criança. Essa visão mudou para a maioria das pessoas, mas o quadrinho nacional, mesmo sendo muito forte, ainda é pouco reconhecido dentro do Brasil. Os mangás acabam dominando a cena e os quadrinhos brasileiros acabam saindo mais caros. Por isso, vemos a importância de grupos e coletivos dedicados a divulgar a produção local e apoiar os artistas independentes”, sublinha Marlone Santana.
Por esse motivo, um dia especialmente dedicado à celebração dos quadrinhos no Brasil traz consigo, também, uma proposta de resistência e valorização. “O Dia Nacional das HQs serve, sobretudo, para ressaltar a importância desse tipo de produção na formação de crianças e adolescentes. Não podemos esquecer que os quadrinhos estimulam a escrita e a leitura, melhoram o vocabulário, desenvolvem habilidades cognitivas e, principalmente, promovem a aproximação dos leitores com a arte. O Brasil abriga uma série de artistas importantíssimos para o mundo dos quadrinhos e teve fundamental importância no desenvolvimento dessa produção ao longo dos anos. Que o dia continue tendo justamente essa função: de mostrar às pessoas a importância da arte e seu impacto social”, considera Renato Mascarenhas.
E não é à toa que a data de 30 de janeiro foi escolhida. Pesquisas especializadas dão conta de que a primeira HQ do mundo foi publicada na década de 90 do século XIX. Nesse contexto, o quadrinho estadunidense ‘O Garoto Amarelo’, de 1897, é considerado um marco. Porém, registros históricos mostram que nos anos 60 do mesmo século já havia publicações do gênero em território brasileiro. ‘As Aventuras de Nhô Quim’, cujo primeiro número foi publicado no jornal A Vida Fluminense em 30 de janeiro de 1969, é um precursor nesta história.
“A importância do dia 30 é histórica. É um dia para entender nossa história, celebrar essa memória e também uma data de luta, por aqueles que resistem lendo e produzindo quadrinhos”, acrescenta Marlone.
Texto e imagens reproduzidos do site: se.gov.br
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